O líder na panela de pressão
por 23 de janeiro de 2013 9:53 1.724 views0
Mais que autocontrole, você precisa manter uma pressão saudável sobre o seu time
Quem nunca ouviu falar em válvula de segurança e válvula de escape? Todos os equipamentos que trabalham em alta pressão devem possuir uma válvula que regula a liberação do vapor, para evitar que um grande estrago aconteça quando a pressão máxima for alcançada.
Um exemplo bem simples desse mecanismo é a panela de pressão, inventada pelo físico francês Denis Papin. Em 1861, ele publicou uma descrição do equipamento que batizou como “digestor”. Na época, Papin demonstrou que o seu invento reduzia ossos a gelatina comestível, diante de uma platéia curiosa de cientistas da Royal Society.
Após essa descoberta, o digestor começou a ser empregado para muitas finalidades além das tarefas domésticas que conhecemos. Seja para esterilizar melhor o material cirúrgico nos hospitais, seja para cozer polpa de madeira e soltar suas fibras na indústria de papel, seja para eliminar o maior número de bactérias e garantir a melhor preservação dos alimentos nas fábricas de conservas, o digestor é realmente um sucesso!
Mas afinal, o que podemos aprender com isso? O que faz um digestor ou panela de pressão? Como o líder pode se aproveitar desses conhecimentos?
Em primeiro lugar, você sabia que, ao nível do mar e num recipiente aberto, a água ferve a 100º C? Sabia que, uma vez alcançada essa temperatura, aumentar a chama serve apenas para desperdiçar o gás e evaporar a água mais rápido? Sabia que, depois que a água já está fervendo, a temperatura permanece constante em 100º C??!
Ou seja, não importa quanto tempo isso leve e nem a quantidade de gás “investida”, o que estiver dentro da água levará sempre o mesmo tempo para cozinhar.
Entretanto, Papin descobriu que em um recipiente fechado como o digestor, é possível conservar o calor e aumentar a pressão, de modo que a temperatura pode chegar até 120º C. Com isso, a carne, batata, feijão ou qualquer outro alimento cozinham muito mais depressa!
Traduzindo isso para o ambiente corporativo, faz sentido imaginar que alguma “pressão” pode fazer uma equipe render mais que a “fervura” normal? Pense bem: não é verdade que, em situações extremas, você demonstra mais atenção, objetividade e desempenho que no trabalho rotineiro de todos os dias? O que faz um atleta extrair o máximo de sua capacidade física e mental em competições importantes como olimpíadas ou mundiais?! Um artista experiente costuma fazer suas melhores apresentações para 10, 500 ou 100.000 pessoas?
Repare que a pressão se manifesta de várias formas e não deve ser necessariamente ruim. No caso da água, é apenas a limitação do espaço e a concentração de vapor que aumentam sua temperatura. Da mesma forma, a pressão que você pode exercer sobre a sua equipe também deve ser positiva e estimulante.
Não é preciso usar de ameaças de corte, competitividade desleal, vigilância exagerada, rigidez de horários e um ambiente de trabalho desagradável para comandar o seu time a uma vitória. Pelo contrário, as vitórias serão mais freqüentes se você desenvolver outras formas de pressão mais saudáveis, com motivação, reconhecimento e resultados.
Ser líder é saber extrair o máximo de cada integrante da equipe. É saber identificar pontos fracos desses integrantes e aprimorá-los a cada dia. É garantir as condições e o estímulo necessário para que cada participante desempenhe o seu papel da melhor forma possível, através de um esforço contínuo em busca da excelência.
Nenhuma equipe solta produzirá tanto quanto uma equipe liderada e motivada diariamente, com metas específicas e o olhar atento de um treinador. Entretanto, elogios são mais importante que as críticas. Prêmios são melhores que castigos!
O líder pode e deve “pressionar” sua equipe a se mover, mas ninguém gosta de críticas e castigos. A pressão precisa ser positiva. Todos devem superar seus limites dia após dia, em cada detalhe do seu desempenho. Um resultado igual ao do dia anterior não traduz a necessidade de melhoria contínua, exigida em um mercado competitivo e em constante transformação. É preciso instigar e provocar a instabilidade positiva. Nada pode ficar parado no mesmo lugar, estacionado ou esquecido.
Não estamos falando de vigilância, ordens e desmandos de um chefe. Estamos falando de estímulo e motivação permanentes, em que todos buscam o mesmo resultado coletivo.
Entretanto, é necessário que o líder compreenda o seu papel de “tampa” nessa panela de pressão. É ele quem regula o ar e a concentração de vapor dentro da panela, com o objetivo de manter o desempenho da sua equipe em estado da arte, a 120º C. É ele quem controla a válvula, garantindo um respiro sempre que necessário, quando as condições dentro da panela forem adversas ou extremas.
Da mesma forma que o pino da válvula sobe e libera o calor quando a pressão dentro da panela alcança o limite, o líder precisa valorizar o descanso, organizar eventos sociais de integração e descontrair sua equipe sempre que possível. Oferecer ginástica, cursos, passeios, palestras, atividades esportivas e culturais são boas formas de respiro que fazem bem à equipe e promovem a união de todos.
A comemoração ostensiva de cada vitória também serve como respiro e estímulo ao mesmo tempo. Toque a sirene, bata um sino ou abra champagnes sempre que uma meta importante for alcançada. Faça com que todos saibam do progresso coletivo e se contagiem desse astral para darem continuidade ao bom trabalho.
O líder precisa entender como funciona uma panela de pressão para extrair o máximo de sua equipe com segurança. Só assim ele poderá exercer corretamente o seu papel de tampa e válvula, sempre que necessário.
Se a panela não tiver tampa ou ela estiver pouco vedada, a temperatura da água e sua equipe ficarão em 100º C. Por outro lado, se a vedação da tampa estiver correta, mas a válvula não funcionar de acordo, a panela de pressão estoura e compromete os resultados, queimando todos a sua volta.
Por isso, é necessário que o líder esteja sempre muito atento à temperatura da água, entendendo que 100º é pouco e 120º C é o máximo que a sua equipe pode alcançar. Se deixar a coisa solta, terá resultados medianos e fracos em relação à concorrência. Se apertar demais, todos correrão um risco desnecessário.
Lembre-se: o excesso de calor produzirá apenas a evaporação mais rápida da água.
Se a equipe estiver acomodada demais ou começar a debandar, reflita sobre a tampa e a válvula que tem sido até agora e mude o quanto antes.
Afinal, quanto melhor for a sua panela, melhor serão as batatas!
Sergio Buaiz .::. [email protected]
Sergio Buaiz é publicitário, escritor, consultor e conferencista. Autor do livro “Marketing de Rede – A Fórmula da Liderança”, é membro do Conselho Editorial da Revista VENCER!, Embaixador da Universidade do Sucesso e Diretor de Projetos da Comunidade BeFriends.
Contato: http://www.buaiz.com